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CAMPO & CIDADE

Pioneirismo da Navarro de Andrade - Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Preparava material - informações - para evento sobre silvicultura. Sim, silvicultura. Cultivo de florestas plantadas. Ou por outra, cultivadas. Que grata surpresa! me deparo com a biografia do ilustre Engenheiro Agrônomo Edmundo Navarro de Andrade (1881 - 1941). Tranquilamente, ao lado de José Bonifácio, pode ser considerado o pai da silvicultura brasileira. José Bonifácio por se preocupar e estabelecer o primeiro marco regulatório de proteção das florestas nativas. E Navarro de Andrade por dedicar-se ao plantio, ao reflorestamento, única forma de se evitar mais desmatamentos. Sobre ele escreveu Arthur Neiva, colega de ofício: "Não conheço entre os contemporâneos vivos, ninguém que vá arrancar da posteridade maior soma de respeito e admiração".

Infelizmente, Navarro de Andrade, é pouco conhecido e reconhecido fora dos círculos da agronomia, profissão que abraçou. De dedicação férrea, ousado, revolucionou o setor florestal brasileiro. Arboricultor emérito, viajou o mundo todo em busca de conhecimento. Cientista ousado, mas, sobretudo, prático e efetivo. Ademais dominava a língua pátria, o vernáculo; escritor clássico com dezenas de obras técnicas publicadas, não só sobre eucalipto, mas sobre borracha, juta, café e outras culturas.

Foi membro da Academia Paulista de Letras. Notabilizou-se, contudo, nos estudos sobre o eucalipto, testando mais de uma centena de espécies. Hoje, mais de quinhentas são conhecidas. Espécie elástica, haja vista sua adaptação aos mais diversos climas no dizer de Ivan Tomaselli, notável Engenheiro Florestal joinvilense radicado no estado do Paraná.

Rebelde na juventude, Navarro juntamente com outros revoltosos é expulso do Colégio Militar no Rio de Janeiro, governo de Prudente de Morais. Motivo: participar em um motim, março de 1896. Após vagar sem rumo certo, graças ao padrinho Eduardo Prado - autor da célebre obra: Ilusão Americana - descobre a sua verdadeira vocação: a agronomia. Seis anos na Universidade de Coimbra em Portugal moldam sua formação.

Da madrinha Dona Veridiana herda o carácter: retidão, respeito e obstinação pelo trabalho. O padrinho o alertará em tempo, em carta memorável. Edmundo, melhor no campo junto da natureza, das árvores e dos pássaros. Dos bois mansos e das verduras. A cidade grande, as noitadas fazem mau ao estômago, arguia. A jornada em Portugal foi proveitosa não apenas nas ciências agrárias, mas também por propiciar contatos com sábios e artistas. Convive com Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, Antônio Cândido, Guerra Junqueiro, Antonio Feijó, Bordalo Pinheiro, entre outros escritores e artistas famosos da época.

A tese de doutorado sobre controle de Dunas o consagra precocemente. Conclui trabalho proposto por José Bonifácio ainda em 1813 à Academia de Ciências de Portugal. Em razão disso, é agraciado com o prêmio: Comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo, recebendo-o das mãos do então rei de Portugal. Ainda quando estudante, de férias, retorna, vai à fazenda da madrinha Veridiana em Campo Alto, Araras. Veridiana solicita seus préstimos para podar algumas fruteiras.

Trabalho que faz com esmero, mas não sem questionamentos; receios de estragar algumas plantas, apreensão do administrador. A madrinha intervém, defende-o, mas pondera: - "Navarro, não vá pensar que que com isso acredito na sua ciência, eu desejo apenas arranjar-lhe distrações para tê-lo aqui ao meu lado. E, depois, aquelas pereiras e macieiras não dão mesmo nada que preste".


Formou-se numa época em que as ferrovias se expandiam. Demandavam, portanto, dormentes e lenha para aquecer as fornalhas. Famosas Maria fumaça. Contratado pela companhia paulista de estrada de ferro, assume o Horto Florestal, em Jundiaí. O consumo de lenha aumentara. Escasseava a madeira na mata. Era preciso plantar.

A partir daquele momento, com apenas 23 anos, trabalha de forma obstinada. Viaja muito, pelo mundo todo, e, sobretudo, escreve. Meticuloso, como pesquisador; mas, sobretudo, um sábio. Astuto, tudo observa, tudo mede, nada lhe escapa.No horto... "Navarro plantou ali, além de eucaliptos muitas de nossas essências indígenas, tais como a peroba, o jacarandá, o jequitibá, o cedro, a cabreúva, a canela, o pinheiro do Paraná, bem como essências exóticas entre elas o cedro do Bussaco, o carvalho, português, a casuarina, a tristânia, a grevílea, ,etc., ao todo 95 espécies, para que desse cotejo fosse indicada a mais interessante, economicamente, para o reflorestamento desejado de vez que não tinha ele, naquela época nenhuma ideia preconcebida a favor ou contra o eucalipto".

No entanto, o eucalipto superou todas as expectativas. Sobre essa escolha, questionado, respondeu: "Se o meu trabalho se cingisse a um simples reflorestamento para cobrir solos pobres ou incultos ou fosse limitado à criação de maciços protetores, ou ainda, que tivesse que me restringir a trabalhos oficiais de ilimitada duração, o desenvolvimento vagoroso das árvores brasileiras não teria sido obstáculo". Mas, precisava de resultado imediato, daí a escolha do eucalipto.

Prova definitiva veio no embate com o professor Doutor Monlevade que questionava a utilização do eucalipto para posteamento. Rede Elétrica. Testam fustes de eucalipto e guarantã. Não dá outra, a espécie tereticornis apresenta três vezes mais resistência de carga que o guarantã. Sorte da floresta. Guarantã preservando. Em Rio Claro monta a base de apoio e o hort. Todas as construções e a mobília foram feitas com eucalipto. Até hoje estão lá à amostra. E partir dali hortos foram espalhados pelo território paulista. Navarro ascende, torna-se Secretário da Agricultura do estado de São Paulo. Assessora o Ministério da Agricultura. E, em 1928, pelos serviços prestados à silvicultura, recebe na França: A Grande Medalha de Saint Hilaire.

Numa das viagens à Austrália impressiona o maior eucaliptólogo e eucaliptógrafo da época, J. H. Maiden, diretor do Jardim Botânico de Sidney, sucessor e revisor da famosa obra do Alemão Barão von Müller. Descreve em pormenores, citando-as pelo nome científico e características botânicas, setenta espécies que estudou. Leva toras aos Estados Unidos para teste de produção de papel e celulose. Exitosa missão.

Quanto à nossas espécies nativas, urge que surja um Navarro de Andrade, pois potencial, certamente não falta. Quanto a Navarro de Andrade ao fomentar o plantio de eucalipto fez sua parte, pois, em grande parte conteve o avanço desordenado sobre as espécies nativas. De tudo, no entanto, fica a lição: precisamos valorizar nossos cientistas, pois com eles, certamente, construiremos um futuro melhor, especialmente para as futuras novas gerações. Como disse Arthur Neiva: "Ouve-se, ainda, no Serviço Florestal, o seu grande chefe. E tenta-se imitá-lo.

Joinville, 13 de agosto de 2021

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