Alcibaldo German, Técnico Agrícola, líder comunitário de nomeada, partiu antes do combinado. Não, porém o seu legado. Este permanecerá
irretocável, pois Alcibaldo sempre combateu o bom combate. Espécie de arauto da paz. Missionário das boas causas. Causas comuns.

Na antiga ACARESC (Associação de Crédito e Extensão Rural de SC, coube-lhe missão de abrir o escritório de Garuva; década de 1970 -
última das fronteiras agrícolas catarinenses. Bastião do norte, espécie de ferradura nos contrafortes da Serra do Mar,
antes de ser Garuva, foi São João do Palmital. Falanstério do Saí. Benoit Mure e Michel Derrion, protagonistas e antagonistas, ambos socialistas utópicos, discípulos, no caso, de Charles Fourier. Com o aval de Dom Pedro II imperador-mor do Brasil levaram cabo a ousada empreitada.

Garuva também é a terra de ventos desembestados, pois imprevisíveis, contornam elevações. Morretes, assim denominados na
toponímia litorânea.

Dele, Alcibaldo, falou José Chaves, ex-prefeito de Garuva: - “Fez toda a diferença. Se Garuva é o que é muito deve a ele, Alcibaldo. Só
não foi prefeito porque saiu de lá”.

Pioneiro na introdução da cultura da banana, e mais tarde do arroz. Naqueles idos, primeiro plantava-se as mudas de banana e, depois,
punha-se a mata abaixo.

Incansável, incentivou a fundação da Cooperbanana. Não raras vezes, dada a precariedade das estradas, pernoitava no interior.
Cartucheira à mão, sempre preparado para o pior. De verdade, caça em abundância nunca faltou nas matas garuvenses.

Mais tarde, transferido para Guaramirim - terra do escritor Silveira Junior, autor do clássico: Memórias de Um Menino Pobre -, replica o
feito. Introduz o cultivo da palmeira real australiana. Guaramirim fica conhecida como a Capital Catarinense da Palmeira real. Incentiva a
piscicultura. Tilápia o carro-chefe. De sobejo, cria a Festa Nacional da Tilápia. Na bananicultura, outro capítulo épico: introduz aviação agrícola. Espécie de copiloto sobrevoava os bananais. Calculava a dosagem correta do óleo vegetal, medida preventiva contra Sigatoka Amarela.

Já na Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC, sucessora da ACARESC (1991), além do extensionismo, dedica-se às lides comunitárias: núcleo de conservas da ACIAG (Associação Agrícola, Comercial e Industrial de Guaramirim), e diversos conselhos comunitários.

Impossível calcular quantas cestas básicas providenciou para pessoas necessitadas. No Programa Lar Legal contribuiu para regularização fundiária, trabalho articulado com o Poder Judiciário e a municipalidade.

Na maçonaria, igualmente se destaca, atinge o grau máximo. Por ocasião de sua passagem, um contemporâneo de secretariado na
prefeitura destacou que Alcibaldo foi um super-secretário. Conhecida os meandros da municipalidade como poucos. Comandou várias pastas, além da agricultura. Um coringa, assim reconhecido.

Sabemos que a extensão rural, antes de ser uma atividade técnica, é uma espécie de missão. Envolve não apenas aspectos técnicos, mas
também de ordem econômica e social. E Alcibaldo – sabemos -, sempre foi um porto seguro para as famílias rurais. Confiável. Discreto. E
sobretudo leal.

Bem humorado, sempre tinha uma história ou uma boa piada para arejar o ambiente. Boas gargalhadas fazem bem. E como.
Nas regiões de região - bastante comuns tanto na ACARESC como na Epagri -, tornou-se referência. Sempre recebidos com um café, tascava: - “O café está ótimo, então a reunião vai ser boa”.

Tinha razão Alcibaldo: toda reunião que começa com um bom café eleva o astral de quem de boa fé.

Vai-se o guerreiro, fica a lenda dispersa na poeira do tempo. O neto, orgulhoso do avô, declamou um lindo poema que bem simboliza quanto Alcibaldo era estimado pela pelos familiares e pela comunidade.

Irmão das estradas, inté mais. grato pelo convívio.

Joinville, 18 de março de 2024

Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo