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CAMPO & CIDADE

Chapéus de Raul

Dia desses visito o amigo Raul Gern. Embora colega de ofício pouco convivemos. Ele lá, e eu cá. No entanto, algo sempre nos uniu: o apego
profissional. A agronomia. A topografia. E o paisagismo.

De formação Raul é agrônomo, mas vida afora, percebo somente agora, foi um artista de nomeada. Uma grata surpresa, pois não sabia
desses seus dotes. Coleções e mais coleções. E, dentre elas, de chapéus. E a cerâmica, então, um segredo guardado a sete chaves.

Chapéu, eis algo instigante. Daqui e dali, para todos os gostos a coleção de Raul. Em plena sala de estar, um cabide. Irrepreensíveis, por si
só, expressam atitudes. Põe capricho naquilo. Faz questão de apresenta-los. Chapéus são primos irmãos de jornada, cismo.

Raul, no entanto, reúne outros atributos. Como caçador de preciosidades transformou a residência num museu. Antiguidades e modernidades saltam aos olhos. E que capricho! Tudo em ordem. A idade – 87 janeiros -, não o impede de apresentar o acervo, embora
recuperando-se de uma cirurgia na coluna. Olhar atento de quem caça borboletas, percorre o ambiente. Olhos azuis da cor do mar. Perspicaz. Franzino, mas um valente, assim é Raul.

E a coleção de regadores, então. Sim, a coleção de regadores sobressai. Há de diversos formatos , grandalhões ou miúdos. Bojudos ou
embicados, mas regadores. Apanha um deles, uma raridade, ergue... cabo alongado apropriado para irrigar ao alto. Apetrecho surpreendente. Engenhoca sobretudo prática.

A coleção de relógios, esta impressiona. Há um todo em madeira. Correntes à solta. E a joia da coroa, relógio armário. Grandalhão, uma
obra-prima. Salta aos olhos... impressão de que em outras épocas os artistas da madeira, se assim podem denomina-los, esmeravam...
capricho e arte; percebe-se claramente.

O Périplo rende. Cerâmica. Cerâmica convertida em peças de arte. Grande parte do acervo de Cláudia, companheira de saudosa memória,
artista plástica de mérito reconhecido. Peças e peças, algumas na coleção. Passá-las adiante, impossível. Xodó de Cláudia.

E Raul pegando o jeito, excelente aprendiz, moldou outras. Há protótipos de arquitetura típica. Faz questão apresenta-los. Sobre Cláudia,
ressalta, não sem emoção:

- Incansável, varava noites, tal paixão criativa. Sossegava somente contemplando a criação. E aponta orgulhoso:

- Veja esta Igreja Luterana. Percebo: é perfeita nos traços e nas linhas. Arquitetura típica.

Nesta hora vem-me à mente Michelangelo. Ao escupir Moises, concluída obra, deslumbrado bate o martelo, e exclama: - “ Por que não
falas? (em italiano: - Per ché non parli”.

Outras preciosidades emprestam charme ao ambiente. Mobílias de madeira artisticamente talhadas. Caixa porta-cartas. Cachimbos
alongados. Ferro de passar roupa... versões diversas, entre os quais um apequenado, próprio para assentar golas. Abajur e lamparinas, uma
senhora coleção.

E pasmem! até um armário com apetrechos de laboratório, acervo do farmacêutico Moraes, pai da Cláudia. Caixas de seringas. Sim, caixas
metálicas. Raul faz questão de ressaltar que o experiente farmacêutico Clarindo Moraes desenvolvia pomadas. Formulações novas. Isso em geral sempre aos sábados e domingos. E não poucas, testadas e aprovadas
pela clientela da Farmácia Iguaçu.

Outro armário, mais à frente, apenas com porcelanas raras. E mais esculturas. Muitas esculturas. Raul e Cláudia eram aficionados por
esculturas.

- Argila boa, lá do Itinga, faz questão de ressaltar. E pinturas, muitas pinturas distribuídas no ambiente, entre os quais um quadro de Victor
Kursancew, publicitário joinvilense. Faz questão de destacá-lo.

Evocação familiar. Que tarde maravilhosa! E, mais ainda, saber que Raul e Cláudia - além de apaixonados por artes plásticas -, especialmente esculturas, notabilizaram-se também como paisagistas. Belos jardins projetados e executados.

Déjà vu, amigo.

Joinville, 12 de abril de 2024

Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo

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