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COLUNA DAS ARTES

As mulheres precisam estar nuas para entrar no museu

  • - O Porto de Nice, 1881-1882, coleção particular

Essa foi uma provocação do Museu de Arte de São Paulo (MASP) para o público refletir sobre o fato de que do acervo daquela instituição apenas 6% dos artistas são mulheres, porém 60% dos nus são femininos. Essa realidade não é restrita ao Masp, provavelmente,
esses percentuais se repetem em todos os museus do mundo.

O papel da mulher historicamente foi subjugado na história da arte. Veja-se Berthe Morisot, ela é uma pintora impressionista do mesmo calibre de Monet, Renoir e Degas, mas raramente é reverenciada como eles. Aliás, apesar de admirada, não foi tratada com igualdade
nem mesmo pelos seus pares.

Pertencente a burguesia, Berthe Morisot (1841-1895) recebeu uma educação refinada, o que incluía aulas de desenho e pintura. Entretanto, não se tratava de uma educação libertadora, mas sim um requisito para que ela realizasse um casamento a altura da sua
posição social.

Apesar disso, frente ao seu grande talento, seus pais, modernos para época, permitiram que ela estudasse e trabalhasse como pintora, investindo em aulas particulares, na medida em que mulheres não eram aceitas nas escolas de artes.

E assim nasce a pintora impressionista Berthe Morisot, ela teve oportunidade de conviver com Degas e Monet, amigos de seus pais, bem como com Manet, que lhe retratou mais de uma vez. Essa amizade foi muito frutífera do ponto de vista artístico, porém ela
sempre se ressentiu, pois, apesar de grandes amigos, Manet sempre a representou como musa e não como pintora, como fazia com os artistas masculinos. Esse fato diz muito sobre a falta de seriedade com que as artistas mulheres eram tratadas.

Como era comum na época, Berthe Morisot era copista no Museu do Louvre - muitos aspirantes a artistas iam ao Louvre para praticar copiando quadros dos grandes mestres de outrora -, foi nesta época que conheceu Camille Carot, pintor de paisagens da Escola
Barbizon, que a aconselhou a pintar ao ar livre, prática comum entre os impressionistas.

Apesar de ter o mesmo talento dos impressionistas mais famosos, Berthe Morisot não alcançou o mesmo reconhecimento, tanto é assim que existem poucos quadros dessa artista formidável nos museus, estando eles restritos as coleções particulares, fazendo com que até
hoje ela permaneça desconhecida do grande público. Aliás, apenas em 2019, a França realizou uma exposição em homenagem a essa pintora tão importante ao movimento impressionista.

O quadro em destaque revela que sua obra obedece aos preceitos impressionistas, quais sejam, paleta clara de cores, cores vibrantes, pinceladas soltas e ausência das linhas do desenho, ou seja, um figurativo subentendido.

Provavelmente, para tentar ser aceita, Berthe Morisot optou por uma temática doméstica, representando a maternidade, mulheres e crianças e outros temas tradicionalmente ligados a sensibilidade feminina, como é o caso do quadro “o Berço” (1872, Museu d’Orsay, Paris) e “O jogo de esconde-esconde” (1873). Contudo, em vários momentos ela subverteu a lógica da época, quando representou seu marido cuidando da filha do casal (Eugène Manet e sua filha no jardim – 1883).

Críticos de arte como Albert Wolff classificou Berthe Morisot como: a verdadeira impressionista, alguns críticos a mencionavam como a melhor entre os impressionistas, desde 1874 até 1866 ela expôs em todas as exposições impressionistas, com exceção do ano de 1878 em razão do nascimento de sua filha. Apesar de casada, Berthe optou por assinar suas obras até o fim da sua vida com o nome de solteira, revelando que, além de uma excelente artista, ela era uma mulher à frente do seu tempo.

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